Acreditamos que o foco deve ser a pessoa e não o processo e que isso faz toda a diferença
O que é felicidade para si?
A felicidade é algo extremamente difícil de expressar em palavras, mas cada vez mais, considero que é algo muito pessoal, impossível de generalizar e que pode ser influenciado por diversas variáveis, que podem ser totalmente diferentes de pessoa para pessoa.
A complexidade do conceito de felicidade, está a meu ver relacionada com o facto de que podemos, simultaneamente, não estar felizes, mas sermos felizes. O ESTAR reporta ao momento, algo que vai e vem, enquanto o SER refere-se à conjugação de todos os elementos da nossa vida que colocamos na nossa equação da felicidade. Exemplo: posso não estar feliz com o meu projeto profissional atual, mas sou uma pessoa feliz e se conseguir mudar esta variável que não está a permitir-me atingir a plenitude da felicidade, estarei mais perto de ser e estar feliz de forma mais constante.
Em suma, para mim, felicidade é a soma de um conjunto de dimensões que influenciam o bem-estar subjetivo (físico, social e psicológico), algo que pode variar de pessoa para pessoa, mesmo que, por exemplo, partilhem os mesmos valores ou pertençam ao mesmo grupo social.
O que faz para ser mais feliz na sua vida e carreira?
Acredito que a qualidade da comunicação é responsável pela maioria dos resultados de tudo o que fazemos na vida. As relações mais felizes e duradouras estão quase sempre marcadas por uma comunicação constante e fluída e por um elevado nível de empatia.
Ouvir um feedback é ter a oportunidade para decidir de forma mais consciente o que vou fazer a seguir, trata-se de poder manter ou alterar um comportamento sabendo quais as expectativas do outro. Algo que procuro fazer constantemente em todas as minhas relações interpessoais.
Valores como transparência e proximidade e competências como escuta ativa e empatia são fundamentais e que tento aplicar em todas as minhas relações, pessoais e profissionais, e que acredito que contribuem verdadeiramente para a minha felicidade individual. A partir do momento em que me preocupo com o que o outro diz, sente ou pensa, e me adapto em conformidade, estarei a agir de forma empática e a contribuir para um ambiente positivo que acredito que eleva a minha sensação de bem-estar e contribui para os meus índices de felicidade.
Em suma, mesmo que os outros façam sempre parte da equação e sejam fundamentais para a minha felicidade, acredito que a minha felicidade depende muito mais de mim próprio do que dos outros, algo que sigo em todas as dimensões da minha vida.
Qual a importância, para uma empresa, de ter colaboradores felizes?
Pela dimensão e amplitude do conceito de felicidade, julgo que se torna cada vez mais relevante substituir o termo “colaboradores felizes” por “colaboradores com uma experiência feliz”.
Ter colaboradores com uma experiência feliz permite habitualmente ter um ambiente propenso à existência de criatividade, inovação, comunicação e trabalho em equipa, elementos que estão quase sempre associados à eficácia e eficiência organizacional.
As empresas devem procurar reunir as condições necessárias para que os seus colaboradores se sintam felizes na e com a empresa, com níveis elevados de engagement e commitment, contribuindo assim para o alcance dos objetivos individuais e coletivos definidos.
Fala-se muito sobre a necessidade das empresas criarem as condições para que os seus colaboradores se possam sentir felizes. Mas no seu entender, de quem é a responsabilidade pela felicidade corporativa – da empresa ou dos colaboradores?
Na minha perspetiva, cabe a cada pessoa a responsabilidade da sua própria felicidade e à empresa cabe o papel de proporcionar as condições necessárias para que os colaboradores tenham uma experiência feliz.
Como já referi, acredito que estar feliz com a situação profissional é fundamental para a equação de felicidade da grande maioria das pessoas, mas não terá o mesmo peso para todas as pessoas.
As empresas procuram, e bem, cada vez mais trabalhar a employee experience, com o objetivo de garantir que os colaboradores têm ao seu dispor um conjunto de ações que lhes permita tirar o melhor partido da sua experiência na empresa e com isso sentirem-se o mais realizados e felizes possível. É esta experiência feliz que pode desencadear tudo o resto, mas mais uma vez cabe ao colaborador ser responsável pela sua própria felicidade.
Aquele colaborador que não participa em nenhuma iniciativa e parece não se envolver com nada do que é feito, pode ser o colaborador mais feliz da empresa, pois pode estar a viver a experiência de colaborador exatamente como desejou, com a liberdade de escolha necessária para aderir ou não ao que a empresa decidiu criar.
Devemos saber lidar e dar espaço para que as pessoas reajam de formas diferentes aos estímulos que vamos criando, isto é fundamental quando falamos em felicidade corporativa.
Surgiram entretanto novas funções adoptadas por algumas empresas – o Chief happiness Manager (CHO) e o Happiness Manager (HM) - será mesmo necessário existir a tempo inteiro um CHO ou HM e porquê?
A Aubay foi a primeira empresa a ter um Happiness Manager em Portugal, pelo menos com recurso a este termo. Esta experiência permitiu-nos aprender imenso sobre o tema e a verdade é que faz a diferença ter uma pessoa com total foco nestas matérias e facilita imenso a perceção generalizada da importância que é conferida ao tema. Permite criar uma referência e servir como uma bússola para que nunca nos esqueçamos da orientação que a empresa deve seguir em termos culturais. Costumo fazer o paralelismo com um departamento de qualidade no setor industrial, em que só o facto de existir já é um contributo para que todos saibam que é algo que importa e que se algo fugir do padrão desejado, será corrigido antes de chegar ao destino.
No entanto, após alguns anos de experiência, percebemos que é possível manter uma cultura de felicidade sem ter uma pessoa, em exclusivo, com este propósito. O nosso percurso tem sido marcado por, mesmo antes de termos a figura de HM criada, trabalhar para que todos os nossos líderes sejam verdadeiros Happiness Managers, preocupando-se constantemente com o bem-estar das nossas pessoas, sendo próximos e disponíveis, com feedback constante e agindo de forma justa e transparente.
Como nada funciona de forma isolada, isto só é possível pela cultura de felicidade enraizada na Aubay ao longo de vários anos, começando na gestão de topo e disseminando-se por toda a estrutura.
Para garantirmos que tudo é feito de forma alinhada, temos uma equipa, do qual eu sou responsável, que visa apoiar os diversos Managers e contribuir ativamente para que todas as pessoas tenham uma experiência positiva, através da criação de ferramentas, programas, projetos, processos e momentos que permitam viver, fomentar e disseminar a cultura da Aubay.
O que é que a Aubay faz, em termos práticos, em prol da felicidade dos seus colaboradores?
Saber ouvir/escutar é fundamental. Na Aubay utilizamos esta competência-chave como base para estarmos sempre em transformação. Através de iniciativas como, por exemplo, o AubayTIsfaction, procuramos trimestralmente ouvir as nossas pessoas sobre vários temas. Estes surveys não são anónimos e permitem que o follow up seja individualizado, sendo esse trabalho feito diretamente pelo manager de cada colaborador. Esta ação visa contribuir para uma relação de confiança, pautada pela comunicação e feedback, que acreditamos ser uma alavanca fantástica para o progresso e crescimento das pessoas e das organizações. Para tudo o que fazemos, pedimos feedback, sejam festas, formações, ou qualquer outra atividade, é fundamental percebermos qual o impacto que teve e se serviu o propósito.
Faz parte da nossa estratégia de felicidade corporativa, sermos constantes, ou seja, não fazer apenas ações soltas e pontuais, pois acreditamos que as relações fortes são compostas por comportamentos regulares. Não chega fazer festas 3 ou 4 vezes por ano para manter um bom ambiente de trabalho nas empresas, há que alimentar diariamente o que nós chamamos de AubaySpirit, por forma a garantir que as pessoas percecionam o que é ser um Aubilous. Isto pode traduzir-se em coisas muito simples, como uma troca de e-mails, que faz as pessoas sentirem-se mais que um número, ou em coisas mais complexas como a atribuição de um benefício anual de apoio à compra de material escolar para os filhos dos colaboradores (os nossos Bambilous) ou a construção de um Plano de Desenvolvimento Individual.
Procuramos conseguir que, mesmo como empresa de grande dimensão, seja possível mantermos uma cultura familiar, de total proximidade. É cada vez mais desafiante, pois qualquer iniciativa facilmente se transforma em algo enorme e difícil de personalizar.
Em suma, acreditamos que o foco deve ser a pessoa e não o processo e que isso faz toda a diferença e tem habitualmente um resultado muito mais impactante. Nesse sentido, tentamos focar-nos mais nas nossas pessoas do que propriamente nas melhores práticas do mercado, por acreditarmos que podemos criar as nossas próprias melhores práticas. Momentos como os nossos míticos almoços de sexta-feira, em que reunimos centenas de pessoas nos nossos escritórios de Lisboa e Porto, só são possíveis numa empresa em que o foco são as pessoas e não o processo. Trata-se de um momento muito valorizado pelas pessoas e que proporciona habitualmente experiências felizes, sendo algo que começou como uma “brincadeira” e se tornou uma bandeira da nossa cultura de felicidade.
Qual o papel dos líderes na felicidade corporativa?
O papel dos líderes é crucial para a felicidade corporativa. Vários estudos apontam que uma das principais razões para as pessoas ficarem ou saírem de uma empresa continua a ser a relação com a sua chefia direta, e faz todo o sentido, pois é com a nossa chefia que partilhamos a maior parte das situações que nos podem deixar mais ou menos felizes com a nossa experiência na empresa.
Como referi anteriormente cabe aos líderes atuarem como Happiness Managers, preocupando-se constantemente com o bem-estar das pessoas, sendo próximos e disponíveis, com feedback constante e agindo de forma justa e transparente.
Não obstante, apesar do papel dos líderes ser sempre relevante, se falarmos da felicidade dos colaboradores, cada um é responsável pela sua própria felicidade.
Quais os principais obstáculos à felicidade corporativa e como é que Aubay os evita?
Acredito que a maioria dos obstáculos à felicidade corporativa estão ligados ao gatilho utilizado para se começar a trabalhar em prole desse grande objetivo. Vejo algumas empresas a começar por aquilo que considero ser o “fim do processo”, i.e., preocupadas por exemplo em ganhar prémios de melhor empresa para trabalhar ou de equipa mais feliz, e depois, em cima desse título, iniciar um trabalho de construção de uma cultura de felicidade, julgo que esta estratégia pode, só por si, ser um obstáculo.
Defendo que o processo deverá ser precisamente o inverso. Devemos começar por trabalhar a cultura organizacional, definindo exatamente o que somos e/ou queremos ser. É com base nessa definição que toda a estratégia de felicidade corporativa deve assentar, sendo criados os diversos alicerces, adequados à realidade da empresa e a partir daí poder desenhar-se um ciclo de vida do colaborador com o objetivo de proporcionar a tão desejada experiência positiva e feliz.
Para quê haver festas se as pessoas não se sentem motivadas a ir? Para quê haver mesas de ping-pong se as pessoas se sentem “criticadas” quando as utilizam? Tal como não são os bens materiais que definem as pessoas, mas sim os seus valores, também não são os artefactos que definem as empresas, mas sim a sua cultura. Este é o maior dos obstáculos, a dicotomia entre a cultura e as ações que vão sendo implementadas.
Na Aubay, a cultura de felicidade é uma realidade, o que facilita não só o processo criativo como também a iniciativa e participação das pessoas nas ações e na partilha de novas ideias. O facto de todos sabermos que o bem-estar das nossas pessoas é uma preocupação real e constante, e que tudo o que fizermos para melhorar a experiência dos nossos colaboradores é sempre muito bem recebido, faz com que tudo na empresa gire à volta disto, e acredito que isso é muito facilmente percecionado por todos os que se relacionam com a Aubay ou com os Aubilous em geral.
Enquanto consultora, um dos nossos maiores obstáculos é a dispersão das nossas pessoas, que trabalham muitas vezes em projetos nos escritórios dos nossos clientes/parceiros. A nossa estratégia de employer branding e de engagement passa muito por conseguirmos que a Aubay esteja sempre presente no dia-a-dia destas pessoas, através de contacto permanente e de várias iniciativas que façam as nossas pessoas sentirem-se acarinhadas, algo que se revela extremamente desafiante e complexo.
Em suma, tudo o que possamos proporcionar aos nossos colaboradores e que eles valorizem, que podem perfeitamente ser festas e mesas de ping-pong, só surtirão efeito se por trás houver uma cultura forte e tudo pareça fazer sentido.
Verifica mesmo, na prática, uma relação entre a felicidade dos colaboradores, a sua produtividade e a performance financeira das empresas?
Sem dúvida que sim, colaboradores felizes com a experiência que vivem na sua empresa falam dela com orgulho. Esse carinho e reconhecimento nunca são indiferentes a quem os ouve. A “recomendação” traduz-se habitualmente em valor acrescentado, tornando a empresa mais atrativa a candidatos e clientes, mas também a quem já está na empresa, contribuindo dessa forma para a retenção e motivação das pessoas.
Trabalhar num ambiente positivo com pessoas positivas faz com que a experiência seja igualmente positiva, tornando as empresas genericamente mais produtivas e mais perto de financeiramente serem bem-sucedidas.
Esta experiência feliz é algo individual, mas que parte do coletivo, da cultura da empresa. Culturas organizacionais fortes, em que as pessoas estão no centro da estratégia empresarial, têm habitualmente pessoas mais comprometidas e por sua vez mais produtivas. Não são, só por si, as “festas” e as “mesas de ping-pong” que tornam os colaboradores mais produtivos, mas sim sentirem que estão num ambiente onde podem ser eles próprios, onde há abertura para darem a sua opinião, onde são tratados com respeito, onde sentem que acrescentam valor. Quando este ambiente está assegurado, então as empresas estão mais próximas de garantir que os seus colaboradores são produtivos e a performance financeira da empresa irá certamente refletir isso e traduzir em retorno este investimento.
Considerando a Aubay Portugal como um lugar onde genericamente as pessoas têm experiências felizes, os nossos números têm demonstrado uma correlação positiva e direta deste conceito com a performance financeira. Por exemplo, entre final de 2017 e final de 2019, duplicamos o nosso volume de faturação e o nosso número de colaboradores em Portugal. Terminámos 2019 com perto de 33 Milhões de euros de faturação e com cerca de 900 colaboradores.
Qual o foi o momento da sua carreira em que se sentiu mais feliz?
É sempre difícil escolher um momento, pois felizmente já foram alguns, mas posso destacar o momento em que entrei na Aubay Portugal e me apaixonei pela cultura da empresa, pelas pessoas, pela forma como percebi que entrei num mundo em que não iria ser o único a preocupar-me com questões de gestão de pessoas!
Para alguém que é responsável da área de gestão de pessoas sentir que toda a equipa de management, top and midlle, está completamente focada em proporcionar a melhor experiência a todos os colaboradores, é fantástico. Isto só é possível por ser esse o ADN da empresa, que foi sendo aprimorado ao longo dos seus mais de 13 anos em Portugal.
Ter tido a oportunidade de construir a minha equipa e criarmos de raiz uma estratégia que fizesse match com a cultura da empresa, focada em ter colaboradores com uma experiência feliz, através da aposta no desenvolvimento de talento e no employer branding como ferramentas de engagement, foi, e continua a ser, uma aventura desafiante e ao mesmo tempo fantástica.
Considero-me muito feliz por representar uma marca que sinto que tem um impacto muito positivo na maioria das pessoas que com ela contactam, desde colaboradores, ex-colaboradores, clientes, parceiros, fornecedores, candidatos, entre outros. Sou uma pessoa de pessoas e sentir que a marca que represento tem na sua essência os mesmos valores que eu, é muito reconfortante e compensador.