Como seria a sua equipa se fosse os “All Blacks”?

Para os mais distraídos, os “All Blacks” são a equipa masculina de rugby da selecção da Nova Zelândia e a equipa recordista do número de pontos alcançados nos campeonatos do mundo da modalidade.

Mas não se trata aqui de ser apenas o nº1, mas sim perceber como é que esta seleção de atletas de excelência se tornaram num exemplo enquanto equipa.

Da sua cultura vencedora, extraem-se vários ensinamentos:

1.    Growth mindset (Vs Fixed Mindset)

Mas o que é afinal o Growth Mindset (ou mentalidade de crescimento ou de expansão)?

Segundo a pesquisa da Professora de Psicologia na Stanford University Carol Dweck – e de forma resumida, têm um growth mindset os indivíduos que acreditam que as suas capacidades podem ser desenvolvidas e treinadas. Que o seu crescimento advem, precisamente, do esforço empregue na aprendizagem e dos erros cometidos sendo, consequentemente, mais criativos.

 Por outro lado, um indivíduo com um fixed mindset, entende que as suas capacidades lhe são inatas e, como tal, esforça-se pouco e é menos colaborativo.

Assim e no caso das crianças, aconselha a Professora Dwek que, elogiar a sua inteligência ou capacidade natural pode levar a um fixed mindset, uma vez que pode levar a criança a desistir facilmente face a uma dificuldade e a olhar para o esforço como algo apenas necessário para o os “menos capazes”.

A professora Dwek identifica várias formas de desenvolver um Growth Mindset, entre elas:

Elogiar o esforço (mais do que atingir o objectivo) não só aumenta a capacidade de motivação instrínseca, como tem um efeito mais duradouro.

Estratégias Diferentes – em vez de incentivar a aumentar o esforço, a Prof. Dwek sugere que se pergunte: “O que é que eu poderia fazer de diferente?”, evitando assim que o esforço seja acompanhado da repetição do mesmo erro.

É isto que os All Blacks fazem: aprendem com os erros e perguntam-se (i) o que poderiam ter feito melhor e (ii) o que poderão fazer de diferente no futuro, alinhando as respostas com os objectivos traçados.

 2.    Sir Graham Henry, um dos treinadores dos All Blacks, sublinha que uma das mais valias de uma equipa é ter também um pensamento flexível e que evoluí de acordo com as situações.

Por exemplo, podemos considerar que a solução para um problema se encontra em determinada direcção. No entanto, temos que ser flexiveis e abertos (e também humildes) o suficiente, para permitir que os membros da equipa dêm o seu contributo, de forma a chegar-se à solução correcta em grupo.

Afinal, uma equipa não é apenas um grupo de pessoas, mas sim um grupo de pessoas que se interajudam com vista a um objectivo e visão comuns.

 3.    Liderança bi-partida é outra das características desta equipa vencedora – tanto treinadores como jogadores partilham a função de líderes.

Transpondo para uma organização, este tipo de estrutura vai fomentar a autonomia da equipa que lidera e identificar que papéis podem ser atribuídos e/ou partilhados

 4.    Há quem diga que “o Rugby é um jogo de hooligans jogado por cavalheiros”, por oposição ao futebol. Tal distinção tem origens históricas, uma vez que eram as famílias mais abastadas (gentleman) que podiam por os seus filhos a estudar em colégios, onde se jogava rugby.

Actualmente esta frase é associada à disciplina dos jogadores – uma das capacidades mais apreciadas em jogo. Sabia que os jogadores não podem ripostar perante uma decisão do árbitro? Se o fizerem, a decisão do árbitro pode-se virar contra a sua equipa.

Mas atrevo-me a complementar com uma outra interpretação – o comportamentos dos jogadores, dentro e fora de campo, é um dos critérios de selecção para entrar na equipa. Mas aqui o treinador tem um papel importante – não se limita a exigir que tenham esta ou aquela competência, mas o treinador apoia cada jogador a desenvolver-se como pessoa. Assim, só sendo um bom indíviduo/cidadão, se poderá tornar um melhor jogador.

Uma das técnicas utilizadas é pedirem aos jogadores que reflictam sobre “o que é ser um All Black” e com base nisso é criada uma lista de valores. Seguidamente deverão corresponder comportamentos ao valores que eles próprios identificaram – tornando-os assim responsáveis pelas suas atitudes.

O mesmo já vai acontecendo em algumas organizações em que a cultura é forte e agregadora, nomeadamente quando:

  • os valores do colaborador e da empresa se sobrepõem;

  • o colaborador orgulhosamente se identifica como fazendo parte da empresa X, entre outras.

 5.    Associado a isto está a forma como devemos olhar para a responsabilidade:

  • Reflectindo criticamente sobre os nossos próprios erros e fazendo como os All Blacks – perguntando o que poderá fazer para melhorar em vez de procurar um culpado em redor;

  • Focar-se na solução – o que devo fazer de diferente e quem me pode ajudar?

6.    Há diferentes formas ou estilos de liderança – dentro e fora das quatro linhas. Mas há linhas orientadoras que ajudam a tornar-se um melhor líder:

  • Seja um exemplo a replicar – em termos de comunicação e no que respeita a atitudes e comportamentos,

  • Desenvolver e aplicar a escuta activa, muito diferente de “falar alto e grosso”

7.    O poder da Expectativa

Já alguma vez ouvi falar do “efeito Pigmaleão”?

De forma muito sucinta, o efeito pigmaleão diz-nos que quando temos expectativas altas relativamente a algo, a tendência é que o resultado obtido seja bastante positivo.

É nisto que os All Blacks apostam – fazendo aumentar o esforço, a motivação e resiliência da equipa.

Podemos igualmente encaixar aqui o chamado papel da memória. Segundo Paulo Moreira, especialista em inteligência emocional

- “para visualizar o futuro, o cérebro vai buscar o passado. As pessoas olham para as experiências passadas de forma negativa. Quando projectam o futuro, como o cérebro vai buscar o passado, só veem o negativo à frente”.

Arrisco-me a dizer que o mesmo se passa quando as pessoas têm uma visão mais optimista das suas experiências, visualizando o futuro também dessa forma, porque ao olhar para o passado, o cérebro tem uma experiência positiva. Assim, quando o esforço e a motivação é maior, a probabilidade de êxito é proporcional.

Algo semelhante é referido pelo conceito de autoeficácia de Albert Bandura – crenças da pessoa em relação às suas capacidades para enfrentar os problemas.

De acordo com esta teoria, as pessoas com elevado grau de autoeficácia acreditam que são capazes de vencer obstáculos e confiam na sua capacidade de chegar ao êxito.

 8.    Espírito de e coesão na Equipa

 Coesão e espírito de equipa são conseguidos nos All Black através da noção do papel de cada um, mas também pela consciência que se devem igualmente divertir.

Antes dos jogos, é também pedido que cada jogador identifique 3 coisas sobre as quais se querem focar durante o jogo. O objectivo é que direccionem a sua atenção para aquilo que os fará jogar melhor. A partilha destes procedimentos fará com que todos tenham conhecimento e caminhem juntos no mesmo sentido.

A comunicação desempenha aqui um papel fundamental, onde é própria equipa que se compromete com os meios e os objectivos a atingir.

Esta é a cultura dos All Blacks - uma equipa campeã. Não tem que ser necessariamente a cultura da sua equipa. Mas acredito que pode inspirar-se e aplicar algum dos seus métodos. O resultado será certamente positivo.

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